Exposição.03


Projeto: Quem somos os que aqui estamos?

QUEM SOMOS OS QUE AQUI ESTAMOS
hoje e depois

Curador: Daniel Maciel


A cultura é algo que constantemente se cria, moldada e refeita pelas mãos de quem a vive. É trabalhada, mutável, transformada e transformadora. Consequentemente, é coisa viva, e a sua inconsistência é a qualidade de todas as coisas que são vivas.

No entanto, este campo de significados não tem sido entendido desta forma. Pelo contrário, podemos sentir um pouco por todo o país não a conexão ao presente, mas uma ânsia de retorno a uma ideia daquilo que foi, de segurar e preservar a memória do passado como se, este sim, fosse o estado máximo de vitalidade cultural. Imperativo é não deixar morrer.

Perante esta tensão entre a vida e o imaginário histórico, a tentação poderia ser romper: rasgar com o passado, ceder a um ímpeto iconoclasta, esquecer; olhar apenas o futuro, sentir somente o vento de um salto em frente. Uma inflexão assim, no entanto, não seria uma forma de virar vinho novo em odres velhos? Afinal, agarrar o futuro é agarrar coisa nenhuma – apenas o devir. Com que propriedade? Com que mãos?

O que está para vir, de certa forma, não é para nós. O que fazemos em preparação para que outros nos encontrem amanhã é, também, a história em movimento. A grande ironia da rejeição do passado está aqui, pois, com a ânsia de nos libertarmos das amarras da nossa herança, não deixamos ao mesmo tempo de fazer disso a herança de quem vem a seguir.

Emaranhada neste jogo de forças, em Alvaredo, a cultura, forma de vida, joga-se e trabalha-se. Assim a história se recria, mastiga e transforma. Está nestes campos de Alvarinho, que já foi milho, que já foram maçãs, que já foram milho também ainda antes, que são este movimento de um chão em convulsão. Aqui, canais velhos alimentam novos regadios; aqui estão o rio e a montanha; encontram-se o sólido e o fluído.

Um palco, diríamos, de transições. Talvez encontremos uma síntese possível neste presente efusivo, que não se retira da história, mas que a molda, como uma oleira converte o barro em novas formas e novos usos. Afinal, se não queremos o devir de uma herança incerta, poderemos tomar as coisas agora, no presente, com as mãos, e criar o futuro com o passado.

Quem somos os que aqui estamos hoje e depois é uma exposição construída a partir de fotografias que são cedidas pelos habitantes da freguesia de Alvaredo. Partindo destas coleções domésticas, a curadoria foca-se no desenho de traços de mudanças entre o passado e o presente, procurando evidenciar tramas e moldes destas transformações marcados pela presença de gente ausente, por terrenos que se alteraram, e por vestígios de inércia histórica detetados na imagem.

Daniel Maciel


INAUGURAÇÃO – 2 agosto às 19:00h

QUEM SOMOS OS QUE AQUI ESTAMOS<br> <em>hoje e depois</em>
QUEM SOMOS OS QUE AQUI ESTAMOS<br> <em>hoje e depois</em>
QUEM SOMOS OS QUE AQUI ESTAMOS<br> <em>hoje e depois</em>
QUEM SOMOS OS QUE AQUI ESTAMOS<br> <em>hoje e depois</em>