A "Explicação das Salamandras" remete-nos para a realidade da emigração portuguesa na França nos anos 60, através do retrato da família da realizadora. Maria Pinto explora o espaço entre dois mundos, dois países: a França, onde vive e onde vivem os seus pais e Portugal, o país do passado, das lembranças e da memória da dor. Maria não filma estes dois espaços da mesma maneira; na França, Maria dá a palavra aos seus pais e às suas diferentes formas de experienciar a vida no país de emigração; o seu pai, que se passeia numa zona industrial onde sempre trabalhou, e a sua mãe no jardim da sua casa, que cultiva com paixão. Um e outro contam os motivos da sua partida para a França, seu pai que insiste mais nas circunstâncias práticas da viagem e a sua mãe, que confessa as razões desta partida. Cada um, no entanto, comunica a angústia da partida. A ideia de Portugal é sinónima de dor. A mãe de Maria, paradoxalmente, afirma "détester" Portugal, mas explica que odeia porque certas circunstâncias que a obrigaram a deixar o país onde nascera. Ambos acabam por ser prisioneiros das vidas que construíram.
João Pedro Rodrigues filma a viagem de férias de uma família de emigrantes, os Fundo, de Paris até à sua terra natal, em Trás-os-Montes. Imagens do quotidiano do casal em Paris – ele é sapateiro, ela é porteira – alternam com registos da jornada que fazem de carro pelas auto-estradas de França e Espanha até Portugal e com momentos vividos no decurso das férias.
Aquando dos acontecimentos do Maio de 68, a emigração portuguesa estava apenas a começar a estabelecer-se em França. A maior onda de imigração que França conheceu começou em 1963. Em 1968, havia 300.000 portugueses em França. Maio de 68 vai surpreendê-los nos anos intercalares, quando eles só pensavam em salvar e construir a casa em Portugal. Estavam num beco sem saída, de mãos e pés atados. Os acontecimentos do Maio de 68 vai ser um choque para os portugueses recém-chegados.
Nos anos 60 quem emigrava clandestinamente recorrendo a um passador, conhecia o código da fotografia rasgada. O passador guardava metade da fotografia de quem emigrava e a outra levava-a o emigrante que, uma vez chegado ao destino, a remetia à família, em sinal de que chegara bem e que poderia ser concluído o pagamento pela sua "passagem". Partindo da sua experiência como emigrante e das memórias de muitos portugueses que partiram para França "a salto", José Vieira traça um retrato amargo da história recente de Portugal.
O filme de Joana Frazão e Raquel Marques visita seis casas de emigrantes portugueses, e as histórias deles, numa aldeia do Norte do país durante um Verão de Agosto, por tradição o mês de férias e dos regressos temporários à terra, às casas que permanecem desabitadas durante o resto do ano. Dando voz às personagens dos proprietários das seis moradias construídas para cumprir os seus sonhos, "A Casa Que Eu Quero" filma esta realidade, através dela propondo um retrato da emigração portuguesa.
Lissac é uma pequena comuna rural adormecida no Causse corrézien. Mas para o fim de 1950, a história acelera-se. As suas pedreiras atraem um número crescente de trabalhadores portugueses que, com as suas famílias, vão conhecer condições de vida muitas vezes rudimentares. Atualmente, apenas quatro casais da primeira geração testemunham esta história. O filme confronta a vida da aldeia, hoje, com as memórias do passado.
Crónica do Renascimento de Uma Aldeia, rodado no Puy-de-Dôme, relata o percurso de emigrantes portugueses que se instalaram, a partir dos anos 60, em antigas aldeias vinhateiras, nomeadamente em Roche-Blanche, na região de Auvergne, em França. Aqui, encontraram como levar a vida e ficaram. A sua presença salvou a aldeia da ruína.
Este filme mostra a vida numa pequena aldeia do Minho, no Norte de Portugal, durante um Verão. Com a chegada dos emigrantes, reinventa-se a pertença à terra e às tradições ligadas ao mundo rural. Trata-se de um projeto feito no âmbito do Mestrado em Antropologia Visual do Granada Centre for Visual Anthropology, da Universidade de Manchester. Prémio Melhor Filme de Estudante Festival do Filme Etnográfico Göttingen, Alemanha, 1993.
Na década de 1970, José e Guiomar foram para França "a salto". Ainda não tinham 20 anos, nem falavam uma palavra de francês, mas estavam determinados a melhorar a vida. Trinta anos depois decidem regressar, no encalço dos filhos que escolheram Portugal para viver. Retrato intimista do diálogo entre gerações, Uma Vida Nova é, simultaneamente, um testemunho de grande valor sociológico no que concerne à emigração e à integração da comunidade portuguesa em França.
Em 1970, mais de cem bairros de lata cercavam Paris. Em Saint-Denis, Robert Bozzi filma um documentário para o PCF. Na época, ele via estes habitantes dos "bidonvilles" como um grupo social particularmente explorado pelo capital. Obcecado pelas imagens que filmou, decidiu vinte e cinco anos depois reencontrar essas gentes das barracas e de saber o qual foi o seu percurso.
A partir da sua experiência familiar, José Vieira aborda uma das expectativas mais comuns do imaginário dos emigrantes: o regresso. Para a maioria, o regresso será sempre um sonho adiado. Mas há os que voltam, como o seu pai que, após 16 anos em França, retorna à sua terra natal, descrevendo o momento da emigração como "o erro da sua vida". Para outros protagonistas deste filme, contudo, o erro está em voltar a uma terra que já não reconhecem como a sua e que não é, decididamente, a mesma que deixaram.
Concierges propõe uma imersão rotina de três porteiras portuguesas a trabalhar em Paris. Todos os aspectos da vida quotidiana das personagens são submetidos ao olhar da objetiva: tarefas diárias, relações com os locatários, questões burocráticas, tempos livres, discussões à mesa, conflitos. Os instantes de rotina destas três mulheres funcionam como pinceladas de um retrato da profissão de porteira e da comunidade emigrante à qual, em França, mais facilmente se associa essa profissão: a portuguesa.
A história de uma aldeia onde quase todos os habitantes emigraram em busca de uma vida melhor. Alguns foram-se embora para sempre, outros regressaram. Através de diálogos e histórias de pessoas que habitam a aldeia no mês de Agosto, José Vieira tenta perceber quem são esses homens e mulheres transformados, de repente, em estrangeiros e que carregam dentro de si a rutura com o seu mundo familiar.
Ao longo de dois anos, Manuel Madeira registou o quotidiano dos membros da "Associação Portugal Novo", constituída por emigrantes portugueses residentes em Colombes, uma zona industrial nos arredores de Paris. Recolheu depoimentos nas casas, nas fábricas, nos cafés, nos locais de festa e compôs um retrato da emigração portuguesa, tirado a partir "de dentro". Enquanto se esforçam por organizar o presente, revelando as suas expectativas, os seus projetos e as suas angústias, os protagonistas desta história refletem sobre o passado e o regime ditatorial que primeiro os oprimiu, e depois os excluiu.
"Solange… com saudades" dá voz a mulheres portuguesas que emigraram de Portugal para a França nos anos 50,60,70. O filme é conduzido por histórias pessoais e memórias, algumas partilhadas pela realizadora do documentário. Mães e filhas dão o seu testemunho. O filme estabelece o diálogo entre duas gerações de mulheres migrantes que vivem a nostalgia do país, e a distância bem como a necessidade de liberdade e de segurança
Maria e José Ribeiro são um casal de portugueses emigrados em França há mais de três décadas. Ela sempre trabalhou como porteira de um prédio num dos melhores bairros parisienses e ele na construção civil. Todos gostam deles, quer pela sua simpatia e humildade, quer pela sua incansável boa vontade para ajudar quem precisa. Quando recebem a notícia de uma herança em Portugal que lhes concretiza o velho sonho do regresso às raízes, tudo parece perfeito. Porém, a verdade é que ninguém está muito interessado em perder a sua amizade e, subtilmente, uns e outros começam a organizar-se de maneira a fazê-los mudar de ideias.