A viagem que traz de volta os emigrantes ao país da sua infância é uma estranha odisseia. É uma sessão à porta fechada dentro de um carro onde permanecemos sob a custódia da nossa memória, num dia único e estafante onde percorremos o labirinto da ausência. Um périplo cheio de interrogações sobre a relação que nos une ao país da nossa infância. Este road-movie é uma viagem que se esbarra contra uma atualidade onde imigrantes fogem permanentemente da miséria e da guerra.
Os consumidores adoram - e mergulham – nos seus smartphones, tablets e laptops. Uma torrente de novos aparelhos inunda consistentemente o mercado, prometendo uma comunicação cada vez melhor, entretenimento contínuo e informação instantânea. Os números são assombrosos. Até 2020, quatro mil milhões de pessoas terão um computador pessoal. Cinco mil milhões terão um telemóvel. Mas esta revolução tem um lado sombrio, escondido da maioria dos consumidores. Numa investigação que atravessa o globo, a cineasta Sue Williams investiga o lado negativo da indústria electrónica e revela como até os dispositivos mais pequenos têm custos mortais para a saúde e ambientais. Das fábricas intensamente secretas na China, passando por uma comunidade de Nova York completamente devastada até aos corredores de alta tecnologia do Silicon Valley, Death by Design conta uma história de degradação ambiental, tragédias de saúde e do ponto de inflexão entre consumismo e sustentabilidade que se aproxima rapidamente.
Um dia, quase tudo se transformou num monte de escombros e de lixo. Restaram fantasmas que vagueiam entre os campos, as ruínas e o nevoeiro. Só que alguns desses fantasmas estão vivos. São gente que ficou, gente que volta, gente que deambula pelas memórias difíceis daquele que foi o mais maldito bairro da cidade. Só que este Tarrafal, campo de morte lenta como o da ditadura salazarista, não fica em Cabo Verde, mas sim em Portugal.
Em julho de 1939, uma família separa-se em Lourenço Marques: os pais e a filha Maria das Dores Afonso dos Santos, de 7 anos de idade, partem para Timor, onde o pai vai assumir o cargo de juiz; os filhos, João e José Afonso dos Santos (o cantor Zeca Afonso), de 11 e quase 10 anos, partem para Portugal, para casa de irmãos do pai, em Coimbra e Belmonte, uma vez que em Timor não existiam condições escolares para continuarem os estudos oficiais.
Menos de dois meses depois dessa separação, a 1 de setembro de 1939, a Alemanha invade a Polónia e, dois dias depois, a Grã-Bretanha, a França, a Austrália e a Nova Zelândia declaram guerra à Alemanha e inicia-se a 2a Guerra Mundial. Em dezembro de 1941, o Japão entra na guerra e, em 20 de fevereiro de 1942, invade e ocupa Timor.
A família só se reencontrará mais de seis anos depois, em Lisboa, em fevereiro de 1946. Os pais e Maria das Dores marcados pela vida pavorosa num campo de concentração durante 3 anos, os filhos João e José, asfixiados pelo Catolicismo e pelo germanismo do Estado Novo e abalados por um longo período de orfandade comiserativa: após a invasão japonesa de Timor, a falta abrupta e absoluta de notícias dos pais e da irmã foi tomada por uma “má notícia”.
Maria das Dores e João Afonso dos Santos, ultrapassados os 80 anos, continuam a recordar de forma vívida e emocionada esse período das suas jovens vidas, bem como a evocar comovidamente a companhia do irmão falecido em 1987. Entrelaçando as suas recordações e as do seu irmão José num diálogo a que a idade, a memória, a evocação poética e os sentimentos duradouros conferem dramatismo e espessura únicas, teceremos a narrativa da aventura familiar dos três e retrataremos uma época funesta da nossa vida coletiva.
Sabri, filho de Saliha, partiu abruptamente um dia para a Síria para fazer a Jihad. Três meses depois, Saliha, o marido e os filhos foram informados da sua morte igualmente de forma abrupta. Sabri deixou para trás um quarto vazio e familiares destroçados. Saliha, perante este luto difícil, decide agir e relaciona-se com outros parentes, outras mães cujos filhos partiram para a Síria. Alguns estão mortos, outros ainda vivos e conseguem de alguma forma manter contacto com as suas famílias. Juntos tentam compreender de onde vem esta súbita radicalização e como os seus filhos podem ser enlistados tão rapidamente pelas redes jihadistas. Hoje em dia, a morte de um jovem na Síria, como é o caso de Sabri, não é legalmente registada, a criança é presumida ausente, presumida morta. Como é possível chorar em tais condições? Desde o parlamento Belga até aos jovens que ela conhece nas escolas, Saliha esforça-se para fazer as coisas acontecerem ao testemunhar o fenómeno da radicalização, a acção dos recrutadores e as fragilidades em que se baseia. Jasna Krajinovic filmou esta história dentro da intimidade das famílias, bem como na sua acção pública. Com muita sensibilidade, ela oferece o seu ponto de vista e entrega-nos a chave para entendermos a extensão deste fenómeno que nos arrasa diariamente. Em casa de Saliha, seguimos esta família que se vai reconstruindo no luto de um filho desaparecido. Na esfera pública, percebemos o impacto do que vai atingindo estas famílias e as potenciais reações. É este duplo movimento que contribui para a força do filme
De Julho a Dezembro de 2015, Bernard-Henri Lévy e uma equipa de operadores de câmara percorreram os 1000 quilómetros da linha da frente que separa o Curdistão Iraquiano das tropas do Daesh. A partir desta viagem, surge um diário de bordo em imagens que oferece uma visão privilegiada de uma guerra que está inacabada, mas onde as paradas são de importância global. Em estreita relação com os Peshmergas, os lutadores Curdos que demonstram uma determinação infalível na sua luta contra o obscurantismo e o fundamentalismo jihadista, o filme leva-nos do alto de Mosul ao coração das Montanhas Sinjar, passando no caminho pelos últimos mosteiros cristãos ameaçados de destruição. Muitas personagens notáveis deixam a sua marca neste relato, homens e mulheres de uma estirpe que raramente se encontra.
No tumulto do caos político no Egipto, um jovem realizador regressa a casa, no Cairo, pela primeira vez desde o início da revolução.
A Segunda Noite é a parte final de uma trilogia que começou com uma carta escrita por um cineasta à sua filha, que foi seguida por filmes de sonho. A realização desta "Cabin Trilogy" é fruto de quinze anos de trabalho e reflexão.
Dois irmãos, um pai exuberante e uma mãe invisível. Uma família de agricultores num vale alpino onde a vida é rude, assim como as maneiras
Quarenta anos após o regime do Khmer Vermelho: Kim Hak, um jovem fotógrafo Cambojano procura um novo imaginário do seu país. Nhem Ein, um fotógrafo aliado ao regime, tirou mais de 14.000 retratos das vítimas. Que imagem representa o nosso país?
Desde que o Quirguistão se tornou independente em 1991, tem havido um renascimento da antiga prática de Ala-Kachuu, que se traduz basicamente como "agarrar e correr". Mais de metade das mulheres kirguizes acabam casadas depois de terem sido sequestradas pelos homens que se tornam seus maridos. Algumas escaparam depois de provações violentas, mas a maioria é persuadida a permanecer pela tradição e medo de escândalo. Embora se diga que a prática tem raízes nos costumes nómadas, a tradição continua em desacordo com o Quirguistão moderno. Ala-Kachuu foi proscrita durante a era soviética e permanece ilegal sob o código criminal de Kyrgyz, mas a lei tem sido raramente executada para proteger as mulheres desta prática violenta.
Um grupo activista Sírio é ameaçado no sudeste da Turquia devido aos seus vídeos de comédia anti-Isis e muda-se para Istambul para começar um programa de TV. No entanto, depois de chegarem, mais barreiras se erguem. Daya al-Aaesh é uma série online satírica anti-Isis criada por um grupo de videoactivistas Sírios. Eles produzem os episódios a partir da sua base em Gaziantep, na Turquia. Depois de receberem ameaças de apoiantes do Isis, partiram para Istambul com o objetivo de fazer um programa de comédia topical mais sofisticado para a TV Síria. Mas os obstáculos continuam a aparecer numa situação cada vez mais instável, pressionando o trabalho e as amizades do grupo. Eles são forçados a tomar decisões sobre o futuro do seu activismo e a possibilidade de uma vida estável em Istambul, ou noutro lugar. Este filme é um olhar refrescante sobre a crise dos refugiados, a invasão do Isis e as escolhas fatídicas deixadas para a juventude da Síria.
Durante a ditadura de Franco e até ao final dos anos 90, muitos bebés foram retirados aos seus pais sem o conhecimento destes, após o nascimento, para serem vendidos. Médicos, freiras, sacerdotes, agentes sociais e enfermeiros estiveram directamente envolvidos. Muitos milhares de Espanhóis depararam-se com este cenário nos últimos anos. São os chamados "ninos robados" - "crianças roubadas".
Em 1992, a construção da barragem do Lindoso (Portugal) inundou para sempre as aldeias de Aceredo e Buscalque (Ourense, Galiza). Os habitantes não conseguiram fazer nada para salvar as suas terras e casas. Sabendo que tudo estava prestes a ser perdido para sempre, vários vizinhos levaram as suas câmaras de video pessoais e começaram a gravar. Estas filmagens, registadas desde meados dos anos 60, constituem evidências históricas e etnográficas valiosas, coloridas pela sua subjectividade e experiências pessoais. As filmagens são, ao mesmo tempo, uma demonstração de fé nas possibilidades dos filmes caseiros poderem registar o tempo em que temos de viver. Além da intimidade, revela-se um retrato dos mecanismos do poder e os seus agentes. A tensão entre o existencial e o político, entre o tempo passado e a realidade presente, determina uma história que se projeta de várias maneiras para além de si mesma.
Em que língua é que vamos contar as histórias que nos foram contadas? Em que língua é que se escreve uma declaração de amor? Centro histórico de Lisboa, Bairro das Colónias, terceiro andar. Fatumata e Aissato, mãe e primogénita de uma numerosa família originária da Guiné-Bissau, discutem o amor e a felicidade. Pelas sete da tarde, do terceiro até ao meu quinto andar, ressoa pelo prédio um som regular, sempre igual, como o bater do coração. O som sobe escadas e patamares, atravessa paredes, portas e corredores, habita as casas, as cozinhas e as varandas interiores.
Penúmbria, a distópica, foi fundada há duzentos anos num extremo de difícil acesso. De solos áridos, mares revoltados e clima violento, ficou a dever o seu nome à sombra quase permanente provocada por uma montanha a sul. Até que um dia, os seus habitantes decidiram entregá-la ao tempo. Esta é a história de um lugar inabitável.
Esta história revela a irrevogável condição gregária do ser humano, demonstrada através de um testemunho artístico, um sentimento fraterno que não compreende contextos geográficos, sociais ou de fronteiras.
Rui, acabado de sair da prisão, vive com a sua idosa mãe Maria, que luta para se lembrar dele.
A vida de Martita (65), que trabalhou para uma família desde muito jovem, é descoberta nesta ficção documental. A sua vida, as histórias, os sucessos, os trabalhos,os amores, os sonhos são narrados através do seu próprio olhar.
É o Dia da Comunhão da menina.
Lá em baixo no andar térreo, à medida que passam as estações, um trabalhador Albanês e um jovem de classe alta renovam um apartamento. No alto do telhado, à medida que passam as noites, o jovem e os seus amigos refletem sobre a sua existência.
Julia Vuorinen é uma jovem de 16 anos cujo smartphone é uma parte importante da sua rotina diária, desde o acordar de manhã até ir para a cama à noite. Este documentário segue o dia de Julia, online e off.
Um dia, Frederico aprende na escola que as pessoas têm cabeça, tronco e membros, e que se o coração pára as pessoas morrem. Nessa noite, ele não dormiu. Acordou a mãe várias vezes de madrugada e disse-lhe que lhe doía o peito.
Imaginem uma ilha. Dentro desta ilha há outra ilha. E dentro dessa outra ilha há uma cidade: uma cidade com dois nomes diferentes. Dentro desta cidade com dois nomes, corre um rio. Esta é a sua autobiografia.
Será a história de um rio capaz de revelar um sentido de vida preso pela história? Apesar do fim do conflito, na Irlanda do Norte há ainda uma cidade com dois nomes diferentes: Derry, para os católicos, Londonderry para os protestantes. No meio da cidade, corre o rio Foyle, que os separa como a sua fronteira líquida: a partir de 1969, quando começou o mais recente conflito no norte da Irlanda, a maioria dos moradores protestantes deixou a área com medo de intimidações e violência sectária.
Um sonho onírico e surreal sobre o conceito de separação, fronteira (geográfica e mental), narrado do ponto de vista do rio, que se torna narrador e protagonista, onde sonhos e realidade se entrelaçam numa espécie de autobiografia mágica do próprio rio.
Através de sequências oníricas e material de arquivo realizado por pessoas Irlandesas comuns nos anos 50, 60 e 70 em Derry e - através da voz do rio, as marés questionam a nossa percepção de eventos passados e recentes: o que nos poderiam dizer? O que sabem sobre nós? Movendo-se visualmente entre tempos passados e presentes, o rio Foyle convida-nos a refletir sobre questões que vão além das suas próprias bordas - o que é uma fronteira? Serão os sonhos daqueles que viveram antes do conflito diferentes daqueles sonhados hoje em dia? E acima de tudo, o que aconteceu aos nossos sonhos?
As diversas variantes de energia animal foram decisivas para sobrevivência dos habitantes da Raia Seca do Laboreiro, na fronteira galaico portuguesa.
No debate sobre qual a comunidade político-cultural a que devem devem pertencer as regiões fronteiriças, todos têm uma opinião: desde as polémicas desavenças entre historiadores, filólogos e políticos, até as posições mais pargamáticas dos habitantes destas zonas. Todos referem a evidência de que as divisões administrativas não correspondem muitas vezes às identidades culturais. Uma aproximação à construção das identidades coletivas através das comarcas raianas da Galiza com Astúrias, León, Zamora e Portugal.
As tradições e os reflexos da sociedade moderna numa das zonas mais remotas de Portugal. Três episódios (1 - “Inverneiras”, 2- “Transumâncias”, 3 - “Brandas”) que descrevem o ciclo vital das populações, dando relevo às migrações cíclicas dos vales para a montanha, e inversamente. A emigração é uma consequência extrema dessa situação, contribuindo para transformar os hábitos e as estruturas comunitárias da região. Exteriores em Castro Laboreiro e Parque Nacional da Peneda - Gerês.
Na ilha africana de São Tomé e Príncipe, as pessoas dizem que os albinos são feitos de água e, se alguma vez entrarem novamente na água, esta os levará de volta. O jovem Abdelaziz tem albinismo e sempre teve medo de água na sua ilha. Mas ele decidiu atravessar a água para poder trabalhar como cozinheiro num restaurante típico português na pequena e tradicional cidade de Castro Laboreiro.
Descoberta de uma vila raiana no norte de Portugal, onde a melancolia dita o rumo dos Homens. Uma história sobre a coragem de partir e a resiliência de ficar numa terra indiferente à cólera.
“Em Castro Laboreiro três vezes pegureiro”
Em Castro Laboreiro observa-se montes, rochas, pequenos conjuntos de casas separadas por grandes distâncias e as mulheres pegureiras a passear o gado e vestidas de preto. Observamos a Isalina, a mulher que se dissolve na paisagem de rochedos e a sua filha Leonor que divide a vida moderna com a vida rural, para uma compreensão intrínseca de uma etnografia. Um retrato de uma solidão com o rochedo mais alto, Pena D’Anamão, persistente na paisagem deste documentário.
Cevide, a aldeia mais a norte de Portugal, é um lugar amaldiçoado. Dois ex-contrabandistas procuram, de maneiras quase opostas, salvar este lugar. Antero é o guardião do seu passado, habitando-o, procurando mantê-lo como outrora foi. Mário é um proclamador de um seu possível futuro, tentando trazer turismo ao lugar, transformando-o em algo novo. O marco número um da nação Portuguesa está em terra maldita. Será ironia ou profecia? Como se manifesta hoje a maldição de Cevide? O que são Antero e Mário: a sua salvação ou a sua condenação?