LAMAS DE MOURO
Lamas de Mouro é um território de várias dimensões, diferentes dinâmicas. Este projeto fotográfico questiona-se perante uma comunidade que tem o cuidar como parte do seu dia-a-dia.
Quando chegamos, existe uma porta, aberta. Uma passagem metafórica para um Parque Nacional percorrido por quem o habita e quem o visita. Uma dualidade de relações, de quem está e sente este território como uma extensão do corpo, e quem chega e percebe que as montanhas são a moldura de uma paisagem por descobrir.
De um lado o Parque, do outro o lugar principal onde fica a igreja, onde o aglomerado de casas define algumas relações sociais intensas. É verdade que há gente de Lamas a viver dentro do Parque Nacional, mas há também um outro lado, atravessando a estrada, num lugar que se decidiu a longo do tempo, muito antes da criação institucional deste Parque Nacional. Pretendo sublinhar esta relação de cuidado, de como uma comunidade decide o seu próprio território, na proteção dos gestos do passado e na procura de um presente ativo.
Uma das questões que sempre me fascinou na minha presença pelo norte de Portugal, enquanto fotógrafo, foi a relação com a palavra Fronteira. A beleza do desenho de uma linha que separa ações e decisões. Já falámos da estrada que separa o Parque da outra parte de Lamas, falta falar da incursão a Alcobaça, um lugar ao lado, que divide território com Lamas de Mouro e Fiães. Um lugar com duas freguesias, com marcos espalhados entre as casas, que denunciam quem é de um sítio ou de outro.
O território tem estas ambivalências aquando da sua descoberta, das divisões do mapa em partes: quando a distância entre uma casa e o caminho que passa à sua porta pode falar desta relação intensa com a terra pisada e trabalhada.
A fotografia, para mim, é cada vez mais um processo de descoberta na pós-narrativa, é decifradora de consciência após o trabalho de campo. Ao caminhar pelos caminhos e eidos descubro que posso representar estes fascínios do ser humano que cuida a sua rua tanto como da sua casa, que cuida a montanha tanto como o seu quintal. A paisagem como um só lugar, democrático, de todos e para todos.
João Gigante