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/Exposição.07

Uma paisagem dita casa

de João Gigante


LAMAS DE MOURO

Lamas de Mouro é um território de várias dimensões, diferentes dinâmicas. Este projeto fotográfico questiona-se perante uma comunidade que tem o cuidar como parte do seu dia-a-dia.

Quando chegamos, existe uma porta, aberta. Uma passagem metafórica para um Parque Nacional percorrido por quem o habita e quem o visita. Uma dualidade de relações, de quem está e sente este território como uma extensão do corpo, e quem chega e percebe que as montanhas são a moldura de uma paisagem por descobrir.

De um lado o Parque, do outro o lugar principal onde fica a igreja, onde o aglomerado de casas define algumas relações sociais intensas. É verdade que há gente de Lamas a viver dentro do Parque Nacional, mas há também um outro lado, atravessando a estrada, num lugar que se decidiu a longo do tempo, muito antes da criação institucional deste Parque Nacional. Pretendo sublinhar esta relação de cuidado, de como uma comunidade decide o seu próprio território, na proteção dos gestos do passado e na procura de um presente ativo.

Uma das questões que sempre me fascinou na minha presença pelo norte de Portugal, enquanto fotógrafo, foi a relação com a palavra Fronteira. A beleza do desenho de uma linha que separa ações e decisões. Já falámos da estrada que separa o Parque da outra parte de Lamas, falta falar da incursão a Alcobaça, um lugar ao lado, que divide território com Lamas de Mouro e Fiães. Um lugar com duas freguesias, com marcos espalhados entre as casas, que denunciam quem é de um sítio ou de outro.

O território tem estas ambivalências aquando da sua descoberta, das divisões do mapa em partes: quando a distância entre uma casa e o caminho que passa à sua porta pode falar desta relação intensa com a terra pisada e trabalhada.

A fotografia, para mim, é cada vez mais um processo de descoberta na pós-narrativa, é decifradora de consciência após o trabalho de campo. Ao caminhar pelos caminhos e eidos descubro que posso representar estes fascínios do ser humano que cuida a sua rua tanto como da sua casa, que cuida a montanha tanto como o seu quintal. A paisagem como um só lugar, democrático, de todos e para todos.

João Gigante

  • Data: 4 Agosto / 16 Outubro 2022
  • Local: Junta de Freguesia de Lamas de Mouro
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joão gigante
João Gigante

João Gigante, 1986, natural de Viana do Castelo, é licenciado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes do Porto e realizou o Mestrado em Comunicação Audiovisual (Fotografia) na Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo do Instituto Politécnico do Porto. Mantém o seu percurso entre a prática das artes plásticas, tendo exposto o seu trabalho em diversas exposições. O seu trabalho complementa as diferentes áreas de actuação plástica, como a fotografia, o vídeo, a sonoplastia, a instalação e o desenho. Desenvolve também projectos de cariz musical onde se destaca o projecto PHOLE. É também, fundador e director da Revista PARASITA (com Hugo Soares). Actualmente é docente na área do audiovisual (área científica de Artes, Design e Humanidades) na Escola Superior de Educação do IPVC.