João Gigante Portugal, 2019
O lugar onde nascemos torna-se muitas vezes um lugar de passagem, onde somamos partes daquilo que é o nosso modo de ser. Prado e Remoães são, para este trabalho fotográfico, como uma narrativa sobre a geografia do olhar, um pensamento sobre as modificações constantes do território, na sua forma e na relação entre quem o habita.
No trabalho de campo há um primeiro contacto com esta ideia de lugar de passagem para outro lugar. À entrada de Melgaço, “coleccionam-se” estradas que, ao longo do tempo, ditam a sua metamorfose cultural, social e económica. Enquanto autor, interessa-me pensar as pessoas que fizeram parte deste território; mas, também, nos dias de hoje, quem fica para recriar e desenhar as novas linhas que o definem, a orgânica e os movimentos diários que tornam esta geografia num espaço habitado. Dos mais novos aos mais velhos, existe uma necessidade de reinventar o dia a dia, a vida como um jogo diário de inter-relações.
Como escreve Liz Wells, a imagem fotográfica “opera topograficamente e metaforicamente”: “Quem fica” surge como um desenho da paisagem, uma inscrição narrativa do quotidiano. O foco está de forma ampla sobre as pessoas que desenvolvem e envolvem as suas vidas e os seus trabalhos dentro deste “jogo”. Três estradas, cafés, o alvarinho, a agricultura, os animais, as pessoas e tudo aquilo que estas acções, despertam num quotidiano activo e pensado pela necessidade.
Viver num lugar de passagem e todos os dias tornar este território o centro de uma nova viagem.