Unes fica paralisado depois de um acidente vascular cerebral. Deitado na cama da sala de estar da família, assiste à transmissão de imagens do mundo exterior, através das câmaras de segurança instaladas no perímetro de sua casa. Vergonha e culpa, é assim que a Unes resume as décadas de colaboração com as forças de segurança israelitas na compra de terras aos palestinianos.
Tirada de seu lar com a falsa promessa de prestígio e dinheiro, a jovem Tania foi forçada a prostituir-se no interior do Perú, até progressivamente perder quase todos os seus traços de identidade. A situação terrível e o tempo não apagaram algumas das suas memórias.
A palavra ‘campo’ vem do latim capere (capturar). Na Antiguidade, nos arredores de Roma ficava o ‘Campo de Marte’, o terreno onde se treinavam os soldados. Hoje, nos arredores de Lisboa, fica a maior base militar da Europa. Neste campo, militares treinam missões fictícias, enquanto astrónomos observam estrelas e um rapaz toca piano para veados selvagens que espreitam à noite. Aqui vi a vida manifestar-se nas suas dimensões mais contraditórias e misteriosas. CAMPO reflete sobre a natureza das coisas, físicas e humanas, transcendentes e mundanas, que aqui se confundem e completam.
Documentário episódico registado num ambiente africano em Guangzhou, China. Pela primeira vez na sua história, a China torna-se um destino de emigração. Atualmente vivem permanentemente neste país mais de 300.000 africanos. Os protagonistas do filme são chineses que interagem diariamente com os africanos. Chinese Dream mostra como a sociedade chinesa enfrenta o desafio da imigração vinda da África.
Como rapariga Anja Kofmel já admirava o seu primo Chris. A sua misteriosa morte no meio das guerras na Jugoslávia em 1992, ainda a mantém curiosa. Sobretudo como o jovem jornalista suíço usava o uniforme de um grupo mercenário internacional no momento da sua morte. O que aconteceu?
Depois, uma casa vai parecer esperar-te: como num declive, esta é uma história inclinada sobre a memória dos lugares e das coisas, sobre regressos e recomeços.
Filme sobre o presente e a memória de Fordlândia, uma company town fundada por Henry Ford na floresta amazónica em 1928, para escapar ao monopólio britânico da borracha. Hoje, o que permanece das construções atesta a escala do fracasso deste empreendimento neo-colonialista que durou menos de uma década. Actualmente, a Fordlândia é um espaço suspenso; suspenso entre tempos (séculos XX e XXI), entre utopia e distopia, entre visibilidade e invisibilidade: construções arquitetónicas de aço, vidro e alvenaria ainda permanecem em uso enquanto vestígios da vida autóctone não deixaram qualquer marca no solo. Embora Fordlândia seja conhecida devido ao curto período Fordiano, não se pode esquecer a história anterior e posterior a estes anos. Dando voz aos habitantes que, rejeitando o rótulo de cidade-fantasma, reclamam o direito de escrever a sua própria história, Fordlandia Malaise combina imagens de arquivo, filmagens de drone, testemunhos, contos e narrativas, mitos e canções.
Esmagada contra o oceano pela encosta de um vulcão, a vila piscatória da Ribeira Quente na ilha de S. Miguel nos Açores vive os últimos dias de uma atividade piscatória tal como a conhecemos. A vida continua mesmo com o peixe a escassear enquanto todos lutam por dias normais.
Com vitalidade, humor e situações inesperadas, este filme retrata um grupo de jovens amigos incomum que vivem num campo de refugiados no meio do deserto do Saara.
O que faz um iraniano em Île-aux-Coudres a mais de 14 mil quilómetros da sua terra natal? A resposta a esta questão é a história deste filme, um encontro da realizadora com um dos pilares do cinema documental, Pierre Perrault.
Um filme sobre Arely Vazquez, uma mulher transgênero e líder do culto Santa Muerte (Queen Death) em Queens, Nova York. Durante a celebração anual para a Bony Lady ("La Flaca", como ela gosta de chamá-la), Arely enfrenta muitos desafios para cumprir e uma promessa que fez há dez anos.
Após o colapso da União Soviética, os pais da realizadora Xenia Sigalova fugiram com ela para a Alemanha. 20 anos depois, ela regressa à sua terra natal à procura dos seus antigos três melhores amigos. Roman, Vladimir e Alexander cresceram na União Soviética e tiveram que encontrar seu caminho na "nova" Rússia de Putin. Nesta procura Xenia retrata uma perspetiva da "Geração Perestroika" e da atual Rússia.
Miguel Gonçalves Mendes adapta ao cinema uma das obras mais lúcidas da cultura portuguesa - "O Labirinto da Saudade" de Eduardo Lourenço - numa viagem única pelo interior de uma mente brilhante. Aos 94 anos, o escritor e filósofo Eduardo Lourenço projeta pelos espaços da sua memória as perguntas que até hoje nele perduram. Que traumas nos definiram enquanto povo? Quem somos? O que fizemos? Que atrocidades cometemos? Quais os caminhos que podemos seguir? Estas questões são o ponto de partida para O Labirinto da Saudade, um filme sobre uma "nação condenada desde a sua origem a esgotar-se em sonhos maiores do que ela própria", mas também a celebração da vida e obra de um dos maiores autores da cultura Portuguesa.
“O Homem do apito" era um personagem que vagueava as praias portuguesas durante o Estado Novo, e que vivia da caridade dos banhistas. De barbas brancas e fato preto ou branco atraía crianças com o seu apito ao pescoço e contava-lhes histórias. A partir de vários filmes de família construí um retrato ficcional deste personagem misterioso e através dele quis explorar o espaço sensorial da praia.
People of the Wasteland é uma curta-metragem experimental, sob um ponto de vista na primeira pessoa que descreve os confrontos na linha de frente da guerra na Síria. No caos da guerra, as linhas entre o certo e o errado ficam difusas. Filmado com uma Go-Pro num território onde a paisagem e as pessoas são efémeras e somente a imagem de um certo momento pode permanecer eterna.
Um realizador segue o rasto outonal das folhas que voaram dos ramos. Uma rapariga constrói outonos deambulando num labirinto de folhas. Um homem persiste em regar o lugar que a árvore deixou existente. Uma mulher que viveu aquele outono. Todos num espaço chamado Jorge Listopad.
Russa volta ao Bairro do Aleixo no Porto, visitando a irmã e os amigos com quem celebra o aniversário do filho. Neste breve encontro, Russa regressa à memória coletiva do seu bairro, onde três das cinco torres ainda se mantêm de pé.
Ano após ano, o "típico" fazendeiro e entusiasta patriota russo François Tulikunkiko tenta fazer face às despesas e encontrar uma resposta para a questão vital: Porque é que as pessoas no interior da Rússia vivem tão mal quando o país é tão rico? É uma história de ironia sobre a vida na província russa, longe das cidades. François é um sonhador com grandes planos, que encontra obstáculos por toda parte, da indiferença habitual à corrupção omnipresente.
Nos subúrbios rurais da cidade de Gaza, uma pequena comunidade de agricultores, a família Samouni, está prestes a celebrar um casamento. Vai ser a primeira comemoração desde a última guerra. Amal, Fuad, seus irmãos e primos perderam os seus pais, as suas casas e as suas oliveiras. O bairro onde moram está a ser reconstruído. Enquanto eles plantam árvores e aram os campos também enfrentam a tarefa mais difícil: juntar a memória.
Alessandro e Pietro têm 16 anos e moram em Nápoles, distrito de Traiano, onde, no verão de 2014, Davide Bifolco, também de 16 anos, foi baleado pela polícia que o confundiu com um fugitivo. Eles são amigos inseparáveis, Alessandro trabalha num bar, Pietro sonha em tornar-se cabeleireiro. Alessandro e Pietro aceitam a proposta do realizador de se fotografarem com um iPhone, comentando sobre suas próprias experiências diárias, a sua amizade, o seu bairro - agora vazio, no meio do verão - e a tragédia que pôs fim à vida de Davide.
Entre as terras áridas do Rajastão, cercadas por minas de mármore, há um oásis: uma pequena cidade chamada Piplantri onde as mulheres não têm mais medo de dar à luz uma menina. Desde 2005, cada vez que uma menina nasce em Piplantri, 111 árvores são plantadas em seu nome para celebrar a ocasião. Um homem chamado Shyam Sunder Paliwal perdeu uma filha de 16 anos e decidiu plantar uma árvore em sua memória. Percebeu que as árvores deveriam ser plantadas não para comemorar a morte, mas para celebrar a vida de todas as meninas. E assim floresceu a ideia de que a base de um futuro brilhante era cultivar árvores, cuidar da água e educar as meninas.
Em 2012 teve início a produção do campo de gás de Bovanenkovo, na península de Yamal, uma zona remota da Sibéria. A zona industrial colidia com a rota histórica de migração dos pastores de renas indígenas - Nenets.
Aos 21 anos, Vasily Vlasov tornou-se o mais jovem parlamentar da Duma Russa. Dada a sua autoconfiança abundante, pensaram que poderia ser uma nova voz no sistema. Mas os ideais de Vasily estão enraizados num partido profundamente conservador, o LDPR, que é apontado como um partido de ideologia fascista.
Centenas de milhares de pessoas fugiram da Síria para a Europa desde 2015. Vivem entre nós e, no entanto, “não estão realmente aqui”. A cada minuto os seus telemóveis podem estar a transmitir mensagens e vídeos provenientes da Síria - a guerra está sempre nos seus telemóveis. O filme retrata quatro pessoas divididas entre essas duas realidades e dá uma visão íntima da vida quotidiana na Síria através de mensagens privadas e vídeos vindas de dentro da zona de guerra.
Depois de escapar da guerra na Síria, uma jovem de espírito livre e a sua família precisam viver confinadas num campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia. Ao longo de quatro anos, a realizadora acompanha a vida desta jovem, registando a mudança resiliente da infância para a adolescência, numa situação de adaptação e sobrevivência.
A partir das memórias afetivas e visuais da minha infância, este filme pretende ser uma homenagem ao meu tio Tomás, um homem humilde e um pouco excêntrico que teve uma vida simples e anónima. Com este filme eu gostaria de testemunhar como não é preciso ser-se "alguém" para se ser excecional na nossa vida.
De regresso a Vila do Conde, onde já apresentou As Rosas Brancas (2013), Diogo Costa Amarante volta ao tema dos afetos e memórias familiares para contar a história sempre pontuada por momentos mais intrigantes e desconcertantes. Cidade Pequena é um filme que se apoia sobretudo nos sons, sempre muito audíveis, e na fotografia, sobretudo noturna, para criar um clima imersivo e intimista que tenta convocar a cumplicidade do espectador. Nessa relação, a mediação dos dois diferentes narradores é fundamental para marcar o ritmo do filme e acentuar uma curiosa e interessante dualidade.
Segundo o lunário perpétuo: "Quando as brasas ou faíscas de fogo se pegarem ao vaso de água denota vento. Quando os montes ecoarem muito e o mar fizer grande ruído, denota ventos tempestuosos e tempestades no mar. Quando, ao amanhecer, aparecer muita névoa, denota serenidade por dois dias." A ver vamos.
Em 1979, Luisa é uma menina de 10 anos, de origem portuguesa, que só conhece a França. É difícil para ela compreender o mal estar dos seus pais, dilacerados pela dor do exílio.
Existe um lugar suspenso pelas correntes do rio Minho que transborda o desejo de passar a fronteira e correr para novos horizontes. É com isso que a pequena comunidade de Melgaço se depara todos os dias – com aqueles que decidem partir. Mas há quem reme contra a corrente, para regressar a casa.
Este documentário retrata a história de dois homens e respetivas caminhadas, obstáculos, dissabores e conquistas, apesar das similaridades das suas raízes, acabaram por tomar direções muito diferentes.
Do alto do norte de Portugal, fustiga o sol de Agosto sobre as ruínas pré-históricas que ficaram por filmar. Resguardam-se dos olhares curiosos os habitantes que esperam início da cerimónia fúnebre. Esta é a reconversão de uma memória através dos mistérios aos quais não temos acesso a não ser com a passagem do tempo.
Um pedaço da história permanece vivo. Cântico de amor jamais gasto.
Deslocado num tempo em que a imagem fotografada que se faz de outrem prevalece, Ringo, o menino envelhecido da mãe Armanda, deambula infotografável pelas ruas e estradas de Melgaço. Esbarra invariavelmente em cruzamentos sem solução: onde o passado, o presente e a presciência do vazio futuro se acotovelam. Encruzilhadas onde a estrela de Ringo ora brilha, ora desvanece. Onde a noite aparece e a madrugada se esquece.