com Jorge Campos e Luís Mendonça sobre o filme Stravinsky (Canadá, 1966, 49') e Lonely Boy (Canadá, 1962, 26'), de Roman Kroitor e Wolf Koenig e o Candid Eye.
Em X-RAYDOC faz-se a análise de flmes cuja importância seja indiscutível para uma História do Documentário na qual se releva, como elemento estruturante, a relação com o outro, em contexto. Esta relação tem consequências a diversos níveis, desde logo no plano das soluções narrativas plasmadas em função de critérios quer de ordem ética quer de ordem estética. Daí que, sendo o real - a matéria prima do documentário - feito de mudança, resulte uma multiplicidade de declinações combinatórias, praticamente infinita, inevitável num cinema que interpela o seu tempo e quem o habita. É esse o domínio do olhar. Portanto, de toda uma teoria. Há documentários que influenciaram o desfecho de guerras, levaram à absolvição de condenados à morte, lançaram nova luz sobre adquiridos, denunciaram situações insustentáveis, mudaram a vida de milhares de pessoas. Há documentários que mudaram o próprio cinema. X-RAYDOC inscreve-se no quadro desta singularidade, procurando ir mais além.
Quando se fala da contribuição do cinema canadiano do National Film Board (NFB) para aquilo que viria a ser designado por Cinéma Vérité e Direct Cinema o nome que imediatamente ocorre é o de Michel Brault. Brault, um extraordinário cineasta, foi, com efeito, não só determinante para a emancipação do cinema do Quebeque, mas também para a criação de um novo tipo de documentário. A sua colaboração com Jean Rouch e Edgar Morin em Cronique d’un Été (1960) levaria a situá-lo mais no campo da Vérité do que no campo do cinema directo.
O mesmo não sucede com a produção da Unidade B, anglófona, do NFB. Em 1957, a Unidade B lançou um seriado documental para a televisão chamado Candid Eye. Aí há como que a consagração de uma espontaneidade que tem como ponto de partida o momento decisivo de Cartier-Bresson. Prevalece a observação. Evita-se a intervenção. Os filmes que aqui se apresentam são de dois dos seus cineastas, a par de Terence Macarteney-Filgate, mais importantes: Wolf Koenig e Roman Kroitor.
Quer Lonely Boy (1962) quer Stravinsky (1966) são posteriores à última emissão do seriado, mas os princípios são os mesmos, salvo num aspecto: há neles uma discreta tendência para a participação. Michel Brault era um admirador destes seus colegas anglófonos. Considerava até Koenig como um dos melhores, senão o melhor operador de câmara do seu tempo. A admiração era recíproca. Na verdade, uns e outros foram cúmplices da aventura única de perseguir a utopia do real. Trocaram experiências. Por exemplo, no som destes dois filmes está Marcel Carrière, um génio inovador, parceiro habitual da produção documental francófona.
Nota final: Recuperar Candid Eye, apesar de relativamente esquecido, não é equivalente a recuperar uma espécie de elo perdido do cinema directo. É lembrar que deixou de ser apenas o nome de um programa de televisão para se identificar com uma forma de fazer cinema que continua actual.
Jorge Campos
Um retrato informal do grande compositor Igor Stravinsky organizado em torno da gravação da sua Symphony of Psalms pela Orquestra Sinfónica do Canadá. Já numa idade avançada, mas sempre sedutor e desconcertante, Stravinsky é seguido à luz de um estilo vérité que combina a observação e intervenção dos cineastas com uma narrativa construída na montagem de acordo com os procedimentos do cinema clássico.
O percurso meteórico, da obscuridade a fenómeno global, de Paul Anka, ícone pop seguido por milhões de adolescentes. Anka é visto quer no palco quer nos bastidores num registo que privilegia a espontaneidade, embora sem prescindir do recurso a entrevistas. A clareza do ponto de vista sobre o método de construção da imagem da estrela-mercadoria é rara no cinema directo. Lonely Boy antecipa filmes como The Beatles in the USA (1964) dos irmãos Maysles e o lendário Dont Look Back (1967) de D. A. Pennebaker sobre Bob Dylan.
Doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de Santiago de Compostela, especialista em Cinema Documental, professor do Ensino Superior, jornalista, cineasta e programador cultural.
Doutorado em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH), tem mestrado na especialidade de Cinema e Televisão. É Professor do Ensino Superior, autor e programador.