Curso de Verão

Fora de Campo

Narrativas na primeira pessoa

mdoc festival fora de campo

Programa

02 Agosto . Segunda-Feira

Hora Atividade Local
17h00 Chegada a Melgaço. Visita às exposições. Encontro e reencontro dos participantes. Centro de Melgaço e Museu de Cinema Jean Loup Passek
22h00 Estreia dos documentários realizados na Residência Cinematográfica PLANO FRONTAL 2019 Casa da Cultura

03 Agosto . Terça-Feira

Hora Atividade Local
10h00 Abertura do curso
Manoel BatistaPresidente da Câmara Municipal de Melgaço Carlos Eduardo Viana - Presidente da Direção da AO NORTE Paula TavaresDireção do ID+ Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues - NuPAA/UFG/ANPAP José da Silva Ribeiroorganização do Fora de Campo – Curso de Verão
Casa da Cultura
10h30 Narrativas na primeira pessoa a construção dos espaços autobiográficos em situações de aprendência
Manoela dos Anjos Afonso Rodrigues - NuPAA/UFG/ANPAP José da Silva Ribeiro - AO NORTE

Somos professores e investigadores a trabalhar com as narrativas de si por meio do audiovisual e seus processos de mediação, bem como através das práticas artísticas contemporâneas e seus processos de criação. A nossa parceria nasceu no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da FAV/UFG, no Brasil, em 2019, quando percebemos que estávamos a trabalhar conteúdos e processos próximos com os nossos estudantes, com foco nas narrativas na primeira pessoa, porém de formas distintas. José Ribeiro na disciplina “Trabalho de campo e narrativas digitais” partiu de perguntas liminares de reconhecimentos de si na presente situação de “aprendência” - quem sou eu? O que faço aqui? O conhece-te a ti mesmo colocado no pátio do Templo de Apolo em Delfos de acordo com o escritor Pausânias constituía em meu entender importante ponto de partida para todos nós aprendizes. Importante também o lugar para onde queremos ir. Destas interrogações decorria a proposta de construção de uma curta narrativa visual, audiovisual ou performática de apresentação dos estudantes e na continuidade desta primeira produção a elaboração de um diário de bordo ou de um portfólio de cada um dos participantes que acompanhasse o desenvolvimento da disciplina. Procurávamos assim construir aprendências significativas de sujeitos e subjetividades que se constroem, se encontram, se reconhecem a si próprias e às outras, se apresentam, se socializam para além do contexto escolar da sala de aula, se projetam como “ação transformadora”, numa travessia intercultural, interdisciplinar, transmediática e de afetos. Na disciplina Atos Autobiográficos e Práticas Decoloniais nas Artes Visuais, Manoela abordou as narrativas na primeira pessoa a partir das artes visuais, buscando experimentar o campo da autobiografia sob as lentes dos estudos decoloniais. Baseando-se então na autobiogeografia, Manoela propôs aos estudantes um exercício crítico e poético de construção do espaço autobiográfico. Para tanto, ofereceu uma pequena caixa de madeira a cada estudante que, por sua vez, decidiu o que iria constituir tal espaço, o que não seria considerado, trazendo assim à consciência os processos de construção das narrativas de si. Os conceitos “espaço” e “lugar” articulados pela geografia humanista e pela geografia feminista, bem como os debates sobre a política do lugar e da identidade para o campo das escritas de vida pós-coloniais foram importantes ativadores da proposta. Cada caixa gerou uma autobiogeografia particular, ou seja, uma narrativa autobiográfica criticamente situadas que evidencia as experiências de deslocamento - geográfico e identitário - das pessoas que estão a escolher o que fica e o que sai da caixa. Na proposta para o Curso de Verão, os participantes receberão uma breve introdução sobre o conceito autobiogeografia, sobre a pesquisa autobiográfica baseada na prática artística, e experimentarão construir seus espaços autobiográficos em pequenos recipientes fornecidos no início do curso. O objetivo é observarmos como criamos e editamos as narrativas que vão construindo nossa ideia de self.

Casa da Cultura
14h00 Projeto Salto à Melgaço: do Minho ao Amazonas Contributos para uma travessia multicultural, interdisciplinar, transdisciplinar, multimediática e de afetos.
Denise Machado Cardoso - UFPA Alessandro Ricardo Campos - UFPA Maria Alice RochaCEPAE/UFG Álvaro CampeloUniversidade Fernando Pessoa

O projeto iniciado em 2018 teve em 2020 uma nova etapa de aprofundamento com a iniciação de professores à produção audiovisual e sua utilização nos processos criativos na educação, com o encontro em Melgaço do Marajó do presidente da Câmara de Melgaço do Minho com o Prefeito de Melgaço do Marajó e com o desenvolvimento da pesquisa com as parteiras e os professores de Melgaço. Apresentaremos estes desenvolvimentos do projeto focalizando as explorações etnográficas audiovisuais participativas e os processos criativos em arte e cultura através das produções audiovisual do investigadores envolvidos no projeto, das produções audiovisuais dos professores, das fotografias dos percursos realizados, de exercícios de “fotografias faladas” visando o aprofundamento de Etnografias Audiovisuais Participativas. Entendemos que o trabalho realizado constitui um contributo para uma travessia multicultural, interdisciplinar, transdisciplinar, multimediática e de afetos que esperamos desenvolver em próximas etapas.

Casa da Cultura

04 Agosto . Quarta-Feira

Hora Atividade Local
10h00 Narrativas do eu
Colectivo Educar la Mirada - Universidade Rey Juan Carlos - URJC Alfonso Palazón Meseguer, Marisa Víctor Crespo.

A partir da Pedagogia, da Filosofia, das Ciências Audiovisuais e do Cinema, o coletivo Educar la Mirada tem vindo a desenvolver, nestes últimos dois anos, uma reflexão sobre a nossas práticas em que observamos confluências com a antropologia visual no trabalho com a identidade das pessoas, na documentação pedagógica ou no ponto de vista a partir da qual as produções audiovisuais são feitas. O projeto que apresentamos centra-se na autobiografia como expressão de uma narração pessoal do eu. O interesse tem sido o uso de audiovisuais como ferramenta de trabalho na elaboração da narrativa do eu como elemento de expressão para grupos não produtores de obras cinematográficas; e que na Antropologia foi denominada (áudio) visual sem autor. O trabalho com mulheres mais velhas (cerca de 80 anos) do município de Leganés permitiu inquirir sobre as suas recordações e memórias. Essa forma tem significado o uso de documentos, histórias e relatos que têm supostas narrativas que representam momentos decisivos em suas vidas. São relatos na primeira pessoa que têm uma presença concreta na vida dessas mulheres e adquirem um sentido de ‘Meu eu’ através de um recurso que esteve presente como forma de expressão de identidade. Propomos fazer uma prática usando objetos de nossa cultura mais próxima que nos permitem criar uma produção audiovisual pondo em relação as próprias identidade das pessoas que estão nos encontros. Propomos projetar estas produções montadas nos dias seguintes.

Casa da Cultura
14h00 Cinema documentário argentino na primeira pessoa: uma força renovadora das narrativas de não ficção
Pablo Piedras - Institute of Entertainment Arts, Universidade de Buenos Aires (via ZOOM) DEBATE com a participação de: Gilmar Santana - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Maria Ângela Pavan - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGEM/UFRN) José Ribeiro - AO NORTE | ID+

A irrupção do “eu” dos realizadores nas narrativas documentais tem sido uma das marcas de identidade fundamentais do cinema não ficcional do século XXI. Na América Latina, a tradição documental configurou-se como um território amplamente relutante à incorporação explícita da subjetividade autoral nas obras. Esse panorama começou a se transformar na década de oitenta devido à influência da televisão e dos formatos jornalísticos, mas também com o surgimento de formas experimentais dentro da não-ficção no cenário cinematográfico internacional. A década de 1990 deu um vislumbre de alguns filmes narrados em primeira pessoa por diretores da América Latina, em muitos casos, em situação de migração e desterritorialização. Sem dúvida, a partir do ano 2000, eclodiram filmes documentários que incorporam alguma modulação do "eu" autoral em sua estrutura narrativa e isso produz mudanças profundas nas formas como as obras representarão a realidade e o passado histórico. Os discursos da memória, a partir de narrativas organizadas sobre a experiência pessoal, são os principais protagonistas dos documentários das duas primeiras décadas do século XXI. No entanto, o futuro deste tipo de filme documentário parece vislumbrar-se em obras que não se centram na exploração do tempo e da memória pessoal, mas sim envolvem o “eu” autoral numa complexa teia de histórias e personagens, em que a circulação através do espaço (e os conflitos que isso acarreta) adquire maior destaque.

Casa da Cultura

05 Agosto . Quinta-Feira

Hora Atividade Local
10h00 Narrativas na primeira pessoa no cinema documentário
Ana Maria Gomes, realizadora - Testemunhos na primeira pessoa

A irrupção da primeira pessoa no documentário não é um fato desligado de transformações culturais, mas amplas que tiveram grande impacto nas expressões artística e intelectuais como a crise das grandes narrativas e explicações totalizantes, a profusão de pequenas narrativas, o discurso sobre o mundo centrado na subjetividade e nas trajetórias biográficas e autobiográficas de seus autores. Também contribuíram o documentário na primeira pessoa a acessibilidade às tecnologias do som e da imagem, com a aparição do vídeo e as sucessivas inovações tecnológicas, a disponibilização de softwares de edição e composição, bem como as condições económicas e políticas que facilitaram a profusão de realizadores independentes e solitários e a emergência do cinema na primeira pessoa. No entanto, esta não constitui uma rutura com o passado do documentário, mas o desenvolvimento no que já estava latente a partir dos anos 1960 e que nos anos subsequentes encontrou condições para o seu desenvolvimento. As temáticas não são particularmente inovadoras, nem mesmo sua função social. A novidade /inovação consiste sobretudo no tratamento das temáticas e dos fenómenos sociais a partir da experiência de si, do particular, do pessoal para os abordar. Convidamos para esta sessão uma cineasta que apresentará sua experiência pessoal de criatividade na primeira pessoa.

Casa da Cultura
15h00 Falar de fotografias, falar de quem somos
Daniel Maciel - AO NORTE | ID+ Manuel SendónFaculdade de Belas Artes de Pontevedra | CEFVigo

Ao longo do século XX, a fotografia introduziu-se, de forma progressiva e massificada, na vida das pessoas, ocupando um lugar destacado em álbuns, na decoração da casa e em arquivos domésticos e comunitários enquanto suporte privilegiado de registo e descrição biográficos e históricos. Percorrer álbuns de fotografia, assim como coleções de fotografias etnográficas, lança o mote para uma viagem na história e cultura contadas na primeira pessoa. As fotografias privadas e domésticas percorrem um circuito próprio, que se estende por caminhos desenhados por redes familiares, de vizinhança e de afeto. A sua linguagem é, por isso, distinta da fotografia profissional ou de fotógrafo, cujo aporte é, em contraste, público, voltado para uma comunicação comum e desligada de elementos de identificação local assim como de usos privados e caseiros. Para o olhar de quem investiga, estes registos são uma janela para o quotidiano, as práticas e costumes, assim como para um interessante rompimento estético com os paradigmas vigentes na fotografia-arte. Mas, ao mesmo tempo, são também a oportunidade para, entre os seus detentores e nelas figurados, se encenar uma reflexão que é ao mesmo tempo autoidentificadora e autobiográfica. Propomos reunirmo-nos no centro de uma exposição de fotografias recolhidas entre habitantes de Castro Laboreiro. Com Manuel Sendón, viajaremos pelo potencial de possibilidades analíticas e estéticas nelas contido.

Centro Cívico de Castro Laboreiro
21h30 Viajar no tempo dos outros
Tânia Dinis - Associação Cultural - Tenda de Saias

Desde 2011 que o meu trabalho de pesquisa e criação, explora a intimidade, vida familiar, tempo-imagem-memória, e estes trabalhos em específico estão inseridos na série “Arquivo de Família”, a qual está em constante desenvolvimento e atravessa diversas perspectivas e campos artísticos, como o da fotografia, o da performance, o do cinema e o da estética relacional (…). Viajar no tempo dos outros - Castro Laboreiro faz parte do trabalho Arquivo de Família, nasce com a criação Álbum de Família, vai-se transformando em outras criações, como esta que proponho. O espectáculo pretende proporcionar um encontro familiar. Proponho um voltar ao ritual familiar da visualização das fotografias, à sua materialidade, fotografias essas que são muitas vezes de viagens, de festividades, de momentos do dia a dia e grande parte das vezes articuladas com textos ou legendas. Importante também, poder vivenciar o relato na primeira pessoa sobre determinada fotografia, pois a imagem registada tem a importância para quem fez parte dela, assim como o lado imagético das pessoas e o seu lado observacional sobre determinada imagem. Em colaboração com MDOC - Festival Internacional de Documentário de Melgaço, um grupo de moradoras de Castro Laboreiro, as que ficaram e que viram os seus maridos, filhos, irmãos partir, vão revisitar documentos visuais, numa viagem que pretende revisitar uma memória, uma cultura, um património, percorrendo histórias pessoais que passam pela época e o seu contexto socioeconómico.

Centro Cívico de Castro Laboreiro

06 Agosto . Sexta-Feira

Hora Atividade Local
10h00 Entre o Enquadramento e a Memória Os Arquivos Etnográficos e as noções de representação na Antropologia Visual
Mina Rad - Festival International du Film Documentaire Après Varan Renato Athias - UFPE – Festival Internacional do Filme Etnográfico do Recife

Os arquivos de fotografias e de filmes são fragmentos das memórias enraizadas no peso de anos da experiência em campo. Os documentários realizados a partir desses arquivos procuram trazer memórias e representações ao público em geral, mediadas pela edição e pelas narrativas na primeira pessoa. As histórias vividas e o trabalho de campo saem do seu contexto e são veiculadas pela narrativa de um documentário. O espectador pode ver, sentir e imaginar as experiências de quem produziu o arquivo etnográfico. Os investigadores podem reviver essas experiências no terreno ao contarem memórias provocadas pelo arquivo. Os documentários realizados a partir de arquivos oferecem a uma nova geração a oportunidade de viverem essas experiências e compreenderem a relação entre memória e enquadramento. Por vezes, meio século de vida de trabalho de campo resume-se num filme de 60 minutos onde cada palavra reúne memórias e representações, e a narrativa na primeira pessoa tenta transmitir as emoções que estão nos arquivos. Propõe-se a reflexão sobre questões relacionadas com os arquivos etnográficos e as relações com a memória e representação na atualidade: como respeitar a transmissão do conhecimento que se acumulou durante décadas? Como respeitar as tradições e costumes existentes nos arquivos, ao trazê-los para o grande ecrã? Como é que uma narrativa na primeira pessoa pode levar os espectadores a uma viagem no tempo? Que questões éticas os arquivos colocam na atualidade?

Casa da Cultura
14h00 Rede de festivais e formação partilhada online
Mina Rad - Festival International du Film Documentaire Après Varan Renato Athias - UFPE – Festival Internacional do filme Etnográfico do Recife Fundação Jean Rouch
Casa da Cultura

07.08 Agosto . Sábado / Domingo

Hora Atividade Local

Participação no Salto a Melgaço

Nos anos sessenta, milhares de portugueses emigraram para França "a salto", assim se chamava a viagem clandestina dos que procuravam um novo destino. Nos dias 7 e 8 propomos, não uma viagem acidentada como a dessa época, mas que partilhe connosco a programação que preparamos e faz parte de MDOC.

Programa sujeito a pequenas alterações