Curador: Daniel Maciel
O século XX veio disparar os portugueses para o olho da tempestade ultramoderna, seja pela mobilidade feroz dos movimentos de emigração, seja pela desmontagem e reestruturação ideológica e tecnológica que tudo contaminou. Perante este movimento, Castro Laboreiro eleva-se orgulhoso de uma altitude que esculca o resto do mundo. Não se deixou ficar. As mulheres castrejas e os homens castrejos fizeram deste salto um projecto. Os homens seguiram as linhas da emigração sem hesitação, pois se conta que sempre os castrejos saíam para fora trabalhar; as mulheres seguraram o investimento e o saber local, pois se conta que sempre as castrejas o souberam fazer.
A colecção fotográfica disposta na exposição Quem Somos Os Que Aqui Estamos pelo planalto abraça, inspirada pela versatilidade castreja, esta multiplicidade de signos e significados. É construída a partir das propostas que um grupo de castrejos seleccionou de entre as fotografias que guardaram nos seus álbuns domésticos, escolhidas com o objetivo de aproximar ao espaço expositivo a riqueza e profundidade estética das vidas castrejas.
É, também, uma colecção especial, por ter sido edificada em condições de especial incerteza e distância trazidas pela pandemia do Covid-19. As limitações ao contacto próximo, ao convívio regular, e à circulação entre largos grupos de pessoas, desenharam um caminho marcado por restrições e distâncias. O nascimento da exposição sublinha, por isso, também uma insistência em avançar perante os receios e seguir vivendo dentro do possível e do exequível.
Castro Laboreiro é uma terra de profundidade histórica, de carácter vincado, e de chão firme. É também um mundo vivido no presente, que não vira as costas àquilo que herdou, e que ombreia o cavalgar acelerado dos tempos. A realização de uma exposição de fotografias antigas, em registo de narrativa autobiográfica, não obstante os obstáculos pandémicos que se nos têm vindo a atravessar no caminho, é apenas mais um apontamento do presente no quadro contemporâneo castrejo.
A exposição é organizada mediante a estreita colaboração entre o MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço, a União de Freguesias de Castro Laboreiro eLamas de Mouro e o Município de Melgaço. Será inaugurada no dia 5 de agosto de 2021, no Centro Cívico de Castro Laboreiro, onde ficará patente até ao dia 17 de outubro de 2021.
Daniel Maciel