João Gigante | Portugal
Num percurso pelo território, fotografar torna-se um ato de perceção e identificação de gestos e movimentos, da morfologia dos lugares. Ao longo de cinco semanas de trabalho de campo, é na montanha que a narrativa se constrói, que se identificam as memórias e a contemporaneidade, as pessoas: Lamas de Mouro e Castro Laboreiro.
Este projeto fotográfico tem como intenção a leitura sobre uma comunidade que se encontra em constante movimentação, com transposição de fronteiras, por migração ou emigração, no presente ou no passado. Quem decide viver, estar e voltar? É neste equilíbrio emotivo e de ligação permanente, mesmo à distância, que se pode definir este território.
Enquanto autor, a viagem por estes eidos desenha e imagina a ideia de sequência narrativa, despertando para formas de abordar, intervir e ativar um objeto de pensamento. Neste trabalho encontram-se partes de um todo, detalhes de uma intenção para com quem está a ser tratado e retratado. Foi na conquista do discurso e da aproximação, que fui entendendo aquilo que seria o projeto, um traço sobre a representatividade de quem aqui habita ou regressa. Acompanhando a preparação e produção do projeto, encontro uma estrutura social dedicada, pensada e diversa, sobre um espaço de tempo e um território em construção.
Fazer parte de uma montanha com tantas memórias transforma a contemporaneidade num gesto de representação constante. O dia-a-dia torna-se um espelho, um reflexo do que terá sido viver aqui. Existe um passado enquadrado e decidido, mas também a procura de um futuro onde as memórias se possam manter e onde sobrevivem. Contudo, quem aqui vive quer ser do hoje e permanecer. É na transformação, de dia para dia, que esta mutação do território se permite a um desenho atual, a uma nova organização desta comunidade: o querer ficar, ou o voltar, sem perder aquilo que já foi ser-se daquele lugar.
Joao Gigante, 2021