A forte emigração de gente do concelho de Melgaço na segunda metade do século XX deixou marcas permanentes. Aqueles que ficaram, ou para cá voltaram, obrigam-nos a repensar o que entendemos por cultura local, ou pertença a uma terra. Aqui, o local e o global confundem-se, já que é dificílimo encontrar alguém cujo sentido de identidade e pertença não esteja de uma forma ou de outra relacionado com pessoas, e lugares, que estão longe.
As histórias de cada pessoa são por isso histórias em trânsito, entre diferentes localidades e línguas. Em Melgaço, o local é também cosmopolita: nem o ser daqui significa estar cá, nem o estar cá implica cá ficar. Se alguma permanência se pode decifrar nos herdeiros destes movimentos migratórios, ela é encontrada neste estado de pertença partilhada entre diferentes terras. Ser "destas" aldeias é então também olhar constantemente para fora.
As pessoas que permanecem, convivem com esta presença-ausência. Os "seus" dispersam, pelo país e pelo mundo. Alguns retornam, regularmente, reafirmando o seu lugar; outros perdem-se, encontrando novos poisos e identificações. Inversamente, os que cá estão também visitam os "seus", levando consigo os limites da aldeia. Identidades em movimento, veiculadas em relações de amizade e família, transbordando os limites da geografia convencional e desafiando radicações culturais estanques.
A exposição QUEM SOMOS OS QUE AQUI ESTAMOS – em trânsito procura reflectir esta desconstrução das fronteiras e identidades. Ela é resultante da recolha de fotografias pessoais entre habitantes da União de Freguesias de Parada do Monte e Cubalhão. Desta recolha, foram escolhidas cerca de 60 fotografias entre o antigo (década de 1950) e o recente, permitindo uma viagem entre o cá e o lá, o tradicional e o inovador, o ontem e o hoje.
Daniel Maciel