Um filme negro e sensual sobre um aterro no Ghana, onde o lixo electrónico do ocidente vai sendo reciclado. Uma experiência inesquecível, contada pelos próprios trabalhadores.
Que rede familiar se esconde por detrás de um único preso político? Como dar corpo a quem desapareceu sem nunca ter tido existência histórica? Partindo de fotografias da Polícia Política Portuguesa (1926-1974), Luz Obscura procura revelar como um sistema autoritário opera na intimidade familiar, fazendo emergir, simultaneamente, zonas de recalcamento pactuantes no presente.
This is Congo é um olhar altamente imersivo e sem filtros sobre um dos conflitos mais longos do mundo. A República Democrática do Congo assistiu a mais de cinco milhões de mortes relacionadas com conflitos, múltiplas mudanças de regime e o empobrecimento indiscriminado do seu povo nas últimas duas décadas. This is Congo mergulha o espectador nas linhas da frente de batalha com os protagonistas principais, incluindo um denunciante e comandantes militares de forma a proporcionar uma visão verdadeiramente única e espontânea do conflito que aflige o Congo.
Em 2003, Fakhir, pai de oito filhos, vai em missão militar a Mosul (Iraque) para lutar contra o terrorismo após a queda de Saddam Hussein. Quando ele constata como milhares de pessoas inocentes são afectadas pela explosão de minas, decide tornar-se em desarmador das mesmas. Com apenas uma simples faca e um alicate ele consegue desarmar milhares de minas, uma tarefa que pode custar-lhe a vida a qualquer momento. Mas isso não o faz parar. A ambição de Fakhir é maior do que isso e ele sabe que pessoas inocentes precisam da sua ajuda.
Uma visão lírica diferente, ao longo do tempo, num território da Galiza interior com um forte sentido de identidade marcado por um passado mágico, um presente desconcertante e esperança de um futuro melhor.
Filmado em Itália com a família do cineasta Tonino de Bernardi, um filme sobre a transmissão entre gerações, sobre o amor e respeito que todos têm uns pelos outros, pela vida, e pela arte.
Numa aldeia remota no interior de Portugal, um jovem realizador quebra a lei do silêncio para desenterrar a história dos seus avós.
Nascida no Estado Novo para controlar os estudantes ultramarinos, A Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa e com delegações em Coimbra e Porto, foi fundamental nas lutas de independência das colónias portuguesas. Por aquele ponto de encontro passaram futuros líderes dos movimentos de libertação como Agostinho Neto e Amílcar Cabral. O documentário A Casa recupera memórias de testemunhos dos sobreviventes da casa, ficcionalizando paralelamente excertos de "A Geração da Utopia", de Pepetela.
A herança cultural de um povo é, na sua autenticidade, uma das maiores riquezas da sociedade que, na sua identidade, congrega as histórias de tempos idos e a inquietude da vontade de a perpetuar. O documentário Herança retrata, de forma genuína e fiel, os processos de socialização e transmissão de valores culturais e sociais, em algumas festas e romarias do concelho de Viana do Castelo em Portugal, numa óptica de proteção do património cultural e imaterial.
A extraordinária e inconvencional juíza Anne Gruwez leva-nos para os bastidores das investigações criminais da vida real. Durante três anos a equipa satírica por trás da série de TV "strip-tease" capturou o que ninguém havia ousado filmar antes. Sem remorsos e politicamente incorreto. Nem vão acreditar nos vossos olhos. Não é cinema: é pior!
A Música Portuguesa a Gostar dela Própria apresenta um filme de Tiago Pereira. Em Paris criou-se um grupo de Cante Alentejano formado por pessoas de várias proveniências. O Cante Alentejano tem uma coisa incrível que é o seu lado de confessionário, os homens másculos, bem constituídos cantam sobre as flores e os passarinhos e as mulheres quando não imitam os motes dos homens cantam segredos femininos e lamentam-se por estar casadas, as pessoas usam o cante como escape do que de outra forma não seria bem visto em sociedade.
Toda a família se prepara para as bodas de ouro de Danuta e Maciej. Por honra à ocasião, Alexandra, a sobrinha alemã, visita Varsóvia. Imediatamente a política absorve as conversas e logo fica claro que todos os familiares polacos apoiam as medidas tomadas pelo governo conservador de direita. De repente, Alexandra é deixada sozinha com as suas opiniões liberais e considerada uma vítima da propaganda ocidental.
Na Índia, uma jovem foi forçada a casar-se porque o seu horóscopo dizia ser essa era a única maneira de sobreviver. Na Nigéria, uma jovem foi violada pelos soldados do Boko Haram e uma noite tentou escapar dos seus raptores. No Peru, uma jovem tornou-se numa jovem mãe. Na Síria, por causa da guerra, uma menina foi vendida ao licitante com a oferta mais elevada. Os seus quatro destinos inevitavelmente se entrelaçam, começando pelo nome que todas compartilham: Hanaa.
Enquanto Artiom se prepara para lutar pelo exército ucraniano, Anatoly, o seu avô de 88 anos e veterano de guerra, regista a diminuição do tempo que passam juntos e questiona a escolha dele.
Cidade de Salgueiro, Sertão de Pernambuco, Brasil. Na arquibancada, o sol castiga os torcedores. No rádio, Boca de Fogo incendeia a transmissão.
Uma estudante de cinema do Quirguistão perde o passaporte na cidade multinacional de Bruxelas. A única pessoa que a pode ajudar é um cônsul nacionalista (e único funcionário da Embaixada do Quirguistão), que está mais interessado em ensinar-lhe sobre o que constitui "um verdadeiro quirguiz" do que propriamente em ajudá-la a recuperar a identidade.
Armindo Carvalho é o meu avô de Vila Nova de Famalicão. Dedicou toda a sua vida à fotografia e, em 1969, obteve a certificação profissional. Ele registou a sua família e as de outras pessoas.
Um homem retorna a Tijuana, na esperança de encontrar uma mulher perdida na noite e drogas. Ela parece ter-se tornado numa "dama branca", uma criatura fantasmagórica entre o céu e a terra.
Um par de amantes a andar de bicicleta na floresta, crianças a atravessar a rua, mulheres a jogar com brinquedos insufláveis nos bancos rasos, um pai a levar a criança pequena ao colo no parque. Este é o outro lado da vida na Coreia do Norte, um mundo longe das paradas do exército, discursos do Líder, opressão e medo. Um documentário poético e observacional.
A professora dos Baluchi tenta lutar contra o analfabetismo na sua aldeia.
Um filme sobre uma amizade que cresce à medida que caminham juntos (in toe), apesar de não se entenderem ou orientarem muito bem um ao outro (in tow). O cenário é uma das longas escadarias nas colinas da cidade de Lisboa, onde Dona Maria, uma senhora portuguesa, frequentemente sobe as escadas na companhia de um sujeito alto vindo de algures na Ásia.
Um jovem casal na faixa dos 20 anos está à espera de um filho, mas não sabe se vai conseguir lidar com isso. Confrontados com pressões e emoções inesperadas, eles decidem separar-se e entregar a criança para adopção. Esta decisão não é tomada facilmente, faltando apenas dois meses para o nascimento do bebé. A situação em que se encontram leva a conversas e experiências que terão um impacto duradouro para o resto da suas vidas.
O olhar como a própria definição do outro - e turistas como a própria definição de orientação. Mas turistas que viajam para aldeias ciganas e Romani que comercializam o romantismo cigano? O que esperam ambos os lados conseguir tirar disso? Poderá um encontro mais profundo ocorrer mesmo sob essas circunstâncias, com essa precisa atribuição de papéis?
A vida passa devagar, repetidamente. Um corpo cansado mas resistente. Do outro lado da câmera, uma tentativa de encontrar aquele momento fugaz que nos revela algo mais da vida. Da observação à construção com o próprio personagem. Palmira é o retrato de vários encontros, bem como o testemunho do processo e evolução desse retrato.
Alan Duarte perdeu nove familiares próximos devido à violência armada na sua comunidade de favela no Rio de Janeiro. Agora, através do seu projecto de boxe, está lutando para construir um futuro melhor para o seu filho e a sua comunidade.
A pedagogia da imagem - este é o foco de Jorge Viana Basto. Durante décadas, treinou olhares, ensinou técnicas e ajudou jovens entusiastas a tornarem-se fotógrafos de referência. E ainda hoje o faz.
A linguagem silenciosa de dois irmãos, a intimidade da fisicalidade. A diferença através da igualdade. Norley e Norlen são gémeos, umas vezes lutam... E outras vezes não.
Co-realizado com o sociólogo Edgar Morin, "Chronique d'un Été" é uma obra emblemática daquilo que durante algum tempo foi chamado o "cinema-verdade", o documentário em som directo, sem comentários e sem mediações. Este cinema foi possibilitado pela aparição de câmaras mais leves e silenciosas. Captados numa Paris vazia durante o mês de agosto, os protagonistas são estudantes franceses (um deles é Régis Debray) e africanos, uma antiga deportada para os campos de concentração (Marceline Loridan), operários. Um retrato colectivo através de retratos individuais, cujo ponto de partida é a pergunta: "Você é feliz?"
Os materiais, imagem e som, não utilizados na versão final do filme de Jean Rouch "Chronique d'un été" foram inventariados e digitalizados em 2008. O documentário é baseado nessas imagens inéditas, enriquecidas por entrevistas com os atores do filme, Edgar Morin, Régis Debray, Jean-Pierre Sergent, Marceline Loridan-Ivens, Nadine Ballot. Uma nova leitura de uma obra que ajudou a mudar a história do cinema francês.
A inusitada trajetória de um grupo de refugiados que divide com os sem-teto uma ocupação no centro de São Paulo. Na tensão diária pela ameaça de despejo, revelam-se pequenos dramas, alegrias e diferentes visões de mundo dos ocupantes.
Persian Tales, Jean Rouch in Iran é sobre a descoberta da profunda relação de Jean Rouch com os realizadores iranianos. Jean Rouch, um realizador e etnólogo francês, viajou três vezes para o Irão nos anos 70. Orientou diversos workshops e realizou um filme em Isfahan. O cinema iraniano de hoje foi influenciado direta e indiretamente, não só pelo método de Jean Rouch, mas também pela sua visão e trabalho sociológico. Persian Tales mostra como a nova geração de realizadores iranianos pensa, tal como Jean Rouch, como a câmara pode mudar a realidade!
As tradições e os reflexos da sociedade moderna numa das zonas mais remotas de Portugal. Três episódios (1 - “Inverneiras”, 2- “Transumâncias”, 3 - “Brandas”) que descrevem o ciclo vital das populações, dando relevo às migrações cíclicas dos vales para a montanha, e inversamente. A emigração é uma consequência extrema dessa situação, contribuindo para transformar os hábitos e as estruturas comunitárias da região. Exteriores em Castro Laboreiro e Parque Nacional da Peneda - Gerês.
Paméla é uma jovem portuguesa da segunda geração, nascida em França. No emaranhado das suas contradições, dos seus insucessos e do amor absoluto pela sua família, sente-se perdida e parece estar incapacitada de imaginar como poderia viver a sua vida... Sobretudo porque só gosta de tocar piano e patinar no gelo. Vai, contudo, desbravar o seu próprio caminho entre França e Portugal.
"En Une Poignée de Mains Amies" é um "aperto de mãos amigas" entre dois cineastas que se conheceram tardiamente. Foi realizado no Verão de 1996, para celebrar os cem anos do cinema português. Rouch e Oliveira filmam a quatro mãos um percurso pelo rio Douro, rio abaixo e regresso. O pacto entre os dois cineastas é atravessado por referências à poesia e ao cinema, em que pairam as sombras de "Douro Faina Fluvial" e de "Aniki Bobó", num filme que também é a celebração de um espaço e de uma amizade.
Melgaço, verão de 2017. Os imigrantes voltam a casa depois de mais um ano de trabalho. As ruas enchem-se de vida no quente verão de Agosto. Agostinho, um dos muitos filhos de imigrantes que ficaram na terra, espera pelo pai ansiosamente neste que será o último verão com regresso marcado. Depois de mais de 30 anos lá fora, é o regresso ansiado de ficar que nos leva a esta história. Enquanto o pai não chega, Agostinho leva-nos aos seus lugares de infância, e de que forma tudo o moldou na ausência paternal. Agora homem, chegou o tempo que sonhava em criança, de ter um pai perto de si e estar pronto a viver todo um mundo novo.
Uma história. Uma família. Um regresso. Sobre um homem que viu muita coisa. Assustou-se muitas vezes. A pensar em quem ficou. Saiu para voltar. Lá deixou muita coisa. Tinha que ser naquela altura. Senão fazia asneira. Sobre uma mulher que ficou. A filha. Cresceu mais rápido. Três pessoas. Três olhares. Três viagens.
Vai-te embora, não podes viver aqui. Mas eu nasci aqui. Não há nada que possas fazer, as pessoas foram-se todas embora, não há trabalho. Mas o que sou eu sem a terra da minha infância? Quem quiseres e podes vir cá passar férias.
Na aldeia de Cambedo da Raia, Chaves, encostada à Galiza, decorreu um episódio sangrento e tardio, ainda em resultado do Golpe Franquista em 18 de julho de 1936.
A aldeia, cercada pela Guardia Civil, pelo Exército Português, pela PIDE e pela GNR foi atacada com tiros de morteiro no dia 21 de dezembro de 1946. Dois guerrilheiros morreram, uma criança foi ferida e foram destruídas habitações, porque ali se haviam refugiado desde a guerra civil alguns galegos.
Cambedo da Raia perderá, por mais de um ano, 18 dos seus habitantes, presos no Porto preventivamente, até ao julgamento. Por longo tempo o episódio permaneceu interdito, com os fascismos ibéricos a imporem a sua versão. Os habitantes de Cambedo arrastaram por dezenas de anos a reputação de malfeitores ou de acoitantes de criminosos, labelo que as autoridades lhes colaram.
Em dezembro de 1996, numa acção cívica levada a cabo por um conjunto de intelectuais galegos, resgatou-se a memória da solidariedade raiana e com ela a auto-estima local. Foi então aposta uma placa no centro da aldeia: “En lembranza do voso sufrimento (1946-1996)”.
O filme recolhe os depoimentos de pessoas da aldeia, dados pela primeira vez, após 50 anos obrigadas ao silêncio sem falar deste episódio trágico.