No princípio houve a luz no écran dos « Lumière ». Uma história tem sempre uma origem. A do cinema terá começada no dia 28 de dezembro de 1895 no Salon Indien, do Grand Café, em Paris, lugar cuja nome já prenunciava aventuras e sonhos quando os irmãos Lumière aí realizaram a primeira sessão pública do cinematógrafo.
Manoel de Oliveira dizia que os irmãos Lumière tinham inventado o cinema para mostrarem o mundo tal como ele era, mas que foram Méliès e Max Linder que o tornaram, o primeiro uma arte, o segundo um divertimento. A partir daí, tudo fora inventado na história do cinema. E as histórias podiam começar.
Esta exposição convida a deambular pelas imagens de alguns filmes sem palavras dos primórdios do cinema.
Ao encontro dos seus autores, das suas personagens míticas, das estrelas, dos heróis, de um rosto, de um olhar, de emoções.
Bernard Despomadères
A fotografia, enquanto documento e pensamento, vai de encontro aquilo que é a intenção de estudo sobre um conjunto de características que definem e descrevem a sociedade e as suas particularidades.
A partir de alguns pontos definidos pela AO NORTE, indo de encontro à estrutura do Festival Filmes do Homem, acontece um trabalho de campo, com a duração de um mês, onde é relevante uma relação direta entre o autor e o tema de trabalho, o comércio. Numa relação entre o fotografado(s) e o fotografo, chega-se a uma “perceção” estética e conceptual que declama uma forma de pensar e estar nesta zona geográfica. O comércio enquanto camada cultural e social, não esquecendo também todos os seus atributos económicos.
O trabalho assenta numa relação direta com as pessoas que fazem parte dos espaços tratados. Cada fotografia realizada é pensada com base num discurso entre o espaço e a forma como cada comerciante faz parte do mesmo. São imagens que absorvem a “totalidade” do espaço, inserindo naturalmente quem o habita. Um trabalho fotográfico que aconteceu pela comunicação e pela absorção das diferentes histórias, onde foi possível documentar as dinâmicas e relações que podemos encontrar nos dias de hoje. São fotografias que descrevem um espaço e a sua história, mas também uma revelação de quem o construiu e o mantém “aberto”.
É dentro deste conjunto de conceitos, que definem um tipo de comércio, que a proposta acontece e onde o trabalho de campo se revela fulcral para uma perceção deste movimento pelas suas características, muito particulares. Estamos a falar de uma zona geográfica fronteiriça onde a forma de estar e de viver se revela e apropria do trabalho fotográfico. Uma pesquisa sobre um lugar e sobre quem o habita.
Numa época de movimentação e fluxo à escala global, Portugal continua a ser um país de emigração cíclica, onde a taxa de emigração é das mais elevadas. Porque emigramos? O que diz a emigração sobre nós?
Enquanto artista e emigrante, pareceu-me importante entender a emigração para além dos números e dos dados socioeconómicos. Usando como caso de estudo a cidade de Londres onde vivo há quase dez anos, procurei abordar através de entrevistas, retratos e fotografias de lugares a experiência do deslocamento e dos seus efeitos pessoais, nomeadamente em relação a
sentimentos como o de pertença e de identidade definida em termos de nação e nacionalidade.
O trabalho pretende criar um retrato da emigração, capaz de parar momentaneamente o seu fluxo e oferecer elementos que permitam recriar a experiência transmitida. Em simultâneo, propõe um retrato de uma cidade a partir da perspetiva dos imigrantes que fazem dela a sua casa, questionando noções adquiridas de fronteira: geográfica, política, identitária.
As fotografias foram criadas a partir da documentalização de vários locais onde se pratica o comércio da tradicional da Vila de Melgaço. O processo passou por explorar exaustivamente cada local através do registo fotográfico, resultando numa acumulação de imagens diferentes. Destas imagens construiu-se um padrão no qual o exercicio consistiu em evidenciar similitudes de forma, elementos, cores, objectos de todas as lojas visitadas. O que é apresentado são várias fotografias de diferentes locais ligadas pela mesma caracteristica que tornam estes locais únicos, designado neste caso pelo comércio tradicional.
Bruna PrazeresFoi-me pedida uma representação fotográfica do comércio tradicional de Melgaço. Eu não
sabia o que antecipar e então, como é costume quando viajo, somente esperava ser surpreendido. O que encontrei foi um enorme desafio que me desconcertou sobremaneira, um desafio único pois o que realizo costuma sair por reflexo do que me rodeia, como algo natural, espontâneo, e costuma ser algo diferente do que me foi proposto aqui. Em Melgaço esforcei-me por retratar o que me foi pedido sem fugir ao intuito de quem muito amavelmente me convidou e me recebeu nesta localidade de beleza fascinante, mas a verdade é que fui puxado por algo do qual eu não conseguia desviar o olhar. Ao longo de uma semana passeei diariamente pelas ruas do centro, visitei lojas, falei com os seus proprietários, perguntei e informei-me sobre como funciona o comércio do pequeno mas lindo centro desta localidade.
O que encontrei principalmente foi comércio moderno, comércio tradicional que se adaptou aos tempos e, mais raramente, real comércio tradicional que aos meus olhos ostentou a sua efemeridade.
Neste último, algumas lojas fascinaram-me pela sua estética reminiscente ao antigo, nostálgica, e imensamente pitoresca; mas também aí apercebi-me das dificuldades que os proprietários viviam para manter a sua tradição, muitas vezes solitários nesse seu despique.
Nos meus passeios algo me deixou boquiaberto: o abandono. Um fenómeno estudado e normalmente denominado como "desertificação do interior" e sabendo que é uma tendência que existe por todo o nosso país, mas também em Espanha e em muitos países desenvolvidos, fui invadido por um sentimento de tristeza, e depois de revolta. Perguntava-me pela direção que tomamos nas nossas comunidades, e enquanto sociedade, quais os seus motivos, e pedia a mim mesmo serenidade para lidar com isto. Daí surgiram estas fotografias e esta temática específica nasceu por si, e cativou a maior parte da minha atenção.
Esta é uma composição que não vanglorio, tal como regista uma realidade do meu país da qual não me orgulho. Melgaço, tal como todo Portugal, é de uma formosura única mas não se deve fechar os olhos e desprezar o que merece atenção.
De um lado a companhia holandesa "Spar" que detém 12500 lojas em 35 países diferentes e lucros a rondar os 30 biliões de euros anuais, do outro uma efémera frutaria tradicional.
Falar de comércio é falar de fronteira, não fosse a proposta realizada numa zona geográfica como Melgaço. Tendo como base o tema comércio, no trabalho de residência, a proposta tornou-se um questionamento daquilo que é a história da troca e passagem de mercadoria pela fronteira. Falar de comércio é falar de contrabando.
Uma viagem pela alfândega (São Gregório), pela história de um lugar, pela arquitetura que tinha a função de bloquear um movimento social que se tornou histórico. Este projeto fala do comércio e assenta a sua narrativa no lugar de passagem, uma série fotográfica que nos faz atravessar as portas do edifício de encontro ao balcão que travava a vontade comunitária de passagem. Uma metáfora da viagem e da fronteira que se representa pelo registo e sequência das imagens apresentadas. Um conjunto de fotografias que assentam na ideia de comércio e que reportam para aquilo que foi esta relação social e económica.
A alfândega como moiom, como "marco" do território, de um "comércio" de antes, com um pensamento de agora. Comércio e contrabando, uma abordagem à história do lugar e das pessoas que habitam esta zona raiana.